Diante da proximidade do lançamento do romance JAGUARITÁ, faço a sua apresentação prévia com o texto a seguir.
Jaguaritá é um romance ficcional e sobre a
temática da Pedra da Onça – fato –, embora os personagens aqui guardem alguma
semelhança com pessoas reais, mas, na realidade, são meras criaturas destinadas
a dinamizar o cenário do maior de todos os garimpos do estado do Espírito Santo
– A Pedra da Onça. Quando se abordam os trabalhos de lavragem dessa jazida de
águas-marinhas, as pessoas são reais.
É
visto também aqui, que, nem sempre são os profissionais os verdadeiros
protagonistas das histórias dos grandes achados de pedras preciosas, feitos ao
mero acaso, semelhante à aleatoriedade de como as gemas se formaram. Um garoto
que caçava cabritos teve a sorte encontrar pequenos cristais de quartzo e de
águas-marinhas, fato semelhante ao ocorrido com um caçador que encontrou
idênticos minerais atirados para fora de uma toca de tatus.
Nesse
segundo caso, o indivíduo levou o material e o mostrou a um comerciante, que,
além de não acreditar nessa história, aconselhou-o a procurar serviço, pois sua
família dependia dos minguados recursos provenientes da sua atividade de
trabalhador agregado em propriedades agrícolas. Ele tinha qualidades do famoso
personagem das histórias infantis — era adepto às características da “lei do
menor esforço” —, tal como o personagem “Jeca Tatu”, criado pelo escritor
Monteiro Lobato.
Bastou que um farmacêutico estabelecido na
localidade de Figueira de Santa Joana tivesse conhecimento do que tal garoto achara
ao escalar o monólito da “Pedra da Onça”, em busca da grande fortuna. Com a notícia
espetacular do achado, houve corrida ao “Eldorado”, semelhante àquela na “Serra
Pelada”, onde uma multidão de garimpeiros, movidos pela cobiça de fortuna com o
ouro encontrado ali com fartura, se assemelhou ao fato ocorrido na Pedra da
Onça, trazendo gente dedicada aos garimpos, principalmente profissionais vindos
do estado de Minas Gerais. Uma grande invasão ocorreu instantaneamente e de
forma descontrolada. Não faltaram curiosos, engrossando a multidão. Sabe-se que
foram retirados de um pegmatito superficial, milhares de quilogramas das mais
puras e coradas águas-marinhas e de quartzos nas variedades morion (palavra estrangeira usada para designar variedade de
quartzo enfumaçado negro. Pronuncia-se morrião), hialino, citrino e ametista e, até hoje, os comentários persistem
nas memórias de pessoas ainda vivas e na lembrança de outros que tiveram como
eu, a sorte de ouvir de forma reverberada e reiteradamente palavras de quem,
mesmo não tendo testemunhado o fato, dele conhece toda a história, sempre
transmitida e retransmitida oralmente.
Vê-se
que personagens do garimpo criados aqui nestes textos serão nada mais que
expectadores, alcançando quantias mínimas de gemas, colhidas nos rejeitos
atirados montanha abaixo. A grande sorte foi generosa com poucos indivíduos
residentes em Figueira de Santa Joana e outros em Itaguaçu, mas a maioria,
mesmo, que retirou grandes gemas é gente anônima e não se sabe quem são e de
onde vieram. Por isso mesmo, os valores encontrados não podem ser quantificados
nem aproximadamente, pois muitas das gemas encontradas nessa lavra não foram
vistas e nem conhecidas. Outros fatos que comumente ocorrem nesses casos são os
boatos, nem sempre retratando coisas verídicas. Portanto, há um misto de
verdades e de dúvidas.
Dos poucos cidadãos aquinhoados, residentes
nas localidades vizinhas, não há quem tenha conseguido manter suas fortunas
porque dinheiro fácil, obtido inesperadamente, assim, na rapidez como chegou,
também se esvaiu.
Esta
obra tem como escopo o que se tratou no livro A Pedra da Onça – Jazidas e Garimpos no Espírito Santo, embalando
temática idêntica, porém de forma fictícia, a respeito de alguns personagens do
garimpo profissional.
Semelhantes
às histórias reais desses profissionais do garimpo, vindos de outros estados,
que derramaram suor, acharam cristais e pedras coradas, apuraram significativos
valores momentaneamente capazes de permitir a aquisição de bens como moradia e
manutenção de garimpos diversos, outros, nada adquiriram ou, se alcançaram bons
resultados, comportaram-se de forma perdulária, entregando-se aos prazeres do
imediatismo e, depois, retornando ao statu
quo.
Pode ser que, na criação desses personagens
fictícios, algum seja identificado com uma pessoa real. Digo que isso não passa
de mera coincidência. Nomes de pessoas reais existiram, no momento em que se
centralizou a incidência dos achados das águas-marinhas na Pedra da Onça. Nisso
prevaleceu o fato verídico.
Além dos relatos de fatos característicos da
atividade garimpeira, existem aspectos relevantes do modo como vivia, como se
divertia e como se relacionava socialmente a população, com destaque especial
para a juventude da época e seus costumes.